De acordo com o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (PNPS, 2013), os “fatores de risco são circunstâncias, condições, acontecimentos de vida, doenças ou traços de personalidade que podem aumentar a probabilidade de alguém cometer uma tentativa de suicídio ou, mesmo, suicidar-se” (p.45). Existem três categorias principais de fatores de risco: individuais, socioculturais e situacionais.
Fatores individuais
- Idade
Segundo o PNPS (2013), em Portugal, na Europa, na América do Norte e na maioria dos países com dados disponíveis, as taxas de suicídio aumentam com a idade e cerca de metade dos suicídios ocorre após os 64 anos.
- Sexo
Em Portugal e na maioria dos países, “o suicídio é mais frequente em indivíduos do sexo masculino, com um risco três vezes superior,” e o padrão de aumento em associação à idade é semelhante em ambos os sexos (PNPS, 2013, p.46).
- Estado civil
As pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas apresentam maior risco de suicídio.
- Profissão
Alguns grupos profissionais, como os da área da saúde e os trabalhadores rurais, registam taxas mais elevadas de suicídio.
- Residência em meio urbano ou rural
Segundo o PNPS (2013), em Portugal, os suicídios são mais frequentes em meio rural, sobretudo no sul do país, registando-se uma tendência de aumento nos grandes centros urbanos.
- Comportamentos autolesivos e tentativas de suicídio anteriores
“A investigação mostra que os comportamentos autolesivos e as tentativas de suicídio prévias são dos mais significativos preditores de risco para o suicídio” (PNPS, 2013, p.47).
- Perturbação mental
A existência de perturbação mental é o fator de risco mais importante, sobretudo as perturbações do humor, as psicóticas e de ansiedade, o abuso e dependência de substâncias (sobretudo o álcool em Portugal) e algumas perturbações da personalidade (perturbações estado limite e antissocial). “A depressão é o fator de risco mais frequente” (PNPS, 2013, p.47).
Segundo Silveira e Fonte (2014), em doentes psiquiátricos, os riscos de suicídio mais significativos são: género masculino, idade média da vida, diagnóstico de perturbação do humor ou esquizofrenia, história de tentativa de suicídio, acontecimentos de vida adversos, período de seis a 12 meses após a alta do internamento (p.242).
- Traços da personalidade
De acordo com o PNPS (2013), os traços de personalidade, a capacidade para gerir a dor psicológica, as competências na resolução de problemas e a capacidade para utilizar os recursos internos e externos são fatores que podem reduzir ou aumentar o risco de suicídio. A hostilidade, o sentimento de desamparo, a dependência, a rigidez e o perfeccionismo, são frequentemente associados ao risco de suicídio. Um fator de risco mais elevado está associado a elevados níveis de desesperança, com ou sem depressão, e à impulsividade nos mais jovens.
- Doença física
Sobretudo se associada a défices funcionais, alteração da imagem corporal, dor crónica, dependência de terceiros, a doença física pode aumentar o risco de suicídio.
- História familiar
Sobretudo um suicídio ou caso de perturbação mental na família, violência, abuso físico ou sexual e negligência familiar aumentam o risco de atos suicidas.
- Fatores neurobiológicos
A investigação sugere a existência de uma relação entre os sistemas neurotransmissores envolvidos na depressão e no suicídio, mas também que os indivíduos que morrem por suicídio podem ter outras vulnerabilidades genéticas que aumentam o risco (PNPS, 2013, p.48).
Fatores socioculturais
- Estigma, valores culturais e atitudes
- Isolamento social
Relacionado com fatores geográficos ou depressão, alcoolismo e vergonha, perdas afetivas, divórcio, prisão, etc. O envelhecimento da população e o insuficiente suporte familiar e social têm grande impacto no isolamento dos idosos.
- Barreiras no acesso aos cuidados de saúde, sejam financeiras, físicas, geográficas ou pessoais.
- Influência dos media
Os media podem contribuir para a prevenção dos comportamentos suicidas ou aumentar o risco de suicídios por imitação pela forma e conteúdo das notícias que divulgam (PNPS, 2013; OMS, 2017).
Fatores situacionais
- Desemprego
Diversos estudos estabelecem uma associação entre taxas de desemprego mais elevadas e taxas de suicídio.
- Acesso facilitado a meios letais, como pesticidas, armas de fogo e medicamentos ou locais e edifícios elevados de fácil acesso.
- Acontecimentos de vida negativos recentes, como divórcio, viuvez, uma perda relacional marcante, conhecer alguém que se tenha suicidado, abuso sexual ou físico e violência doméstica, perda de estatuto socioeconómico.
FATORES PROTETORES
No sentido contrário aos fatores de risco de suicídio, existem os fatores protetores, que “correspondem a características e circunstâncias individuais, coletivas e socioculturais que, quando presentes e/ou reforçadas, estão associadas à prevenção dos comportamentos autolesivos e atos suicidas” (PNPS, 2013, p.50).
Fatores individuais
- Capacidade de resolução de problemas e conflitos
- Iniciativa no pedido de ajuda
- Noção de valor pessoal, auto-estima
- Abertura para novas experiências e aprendizagens
- Satisfação com a vida
- Estratégias comunicacionais desenvolvidas
- Empenho em projetos de vida e planos para o futuro
Fatores familiares
- Bom relacionamento familiar
- Suporte e apoio de familiares
- Relações de confiança
Fatores sociais
- Ter emprego
- Facilidade de acesso aos serviços de saúde
- Apoio de amigos, colegas de trabalho e outras pessoas
- Valores culturais que desencorajam o suicídio
- Pertença a uma religião
Referências
OMS (2017). Preventing suicide: a resource for media professionals – update 2017
Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (2013)
Prevenção do Suicídio – Manual para Jornalistas (2020)
Silveira, E., & Fonte, A. (2014). Adulto e comportamentos suicidários. In Saraiva, C. M. B., Peixoto, A. J. B., & Sampaio, D. J. B. (Coord.), Suicídio e comportamentos autolesivos (241-262). Lisboa: LIDEL – Edições Técnicas, Lda.