Suicídio

Mais de 700.000 pessoas morreram por suicídio em 2019. O suicídio está entre as principais causas de morte em todo o mundo, com mais mortes por suicídio do que devido à malária, HIV, cancro da mama, guerra e homicídio.
Mais de uma em cada 100 mortes (1,3%) em 2019 foi por suicídio.

Organização Mundial de Saúde (2021)

Émile Durkheim, precursor do estudo do suicídio, na sua obra de 1897 ‘Le Suicide’ define o suicídio como “toda a morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima (1982, p.9).

“Quer a morte seja simplesmente aceite como uma condição lamentável mas inevitável para atingir um certo objetivo, quer seja expressão desejada e procurada em si mesma, num caso e noutro, o sujeito renuncia à existência.”

Durkheim (1982, p.10)

Pierre Moron (1977) definiu o suicídio como o “assassínio de si próprio”, frisando que apesar de poder, à primeira vista, “parecer um sintoma de patologia mental, é muito mais do que isso: é um conceito familiar ao indivíduo normal e tem um valor afetivo e ético, um significado existencial” (p.5). 

De acordo com Edwin Shneidman, considerado por muitos o pai da suicidologia, “atualmente, no mundo ocidental, o suicídio é um ato consciente de autoaniquilação, melhor compreendido como um mal-estar multidimensional num indivíduo carente que define um problema para o qual o suicídio é percebido como a melhor solução” (1977, p.203). O autor apresentou o suicídio como resultado da confluência de um máximo de dor, um máximo de pressão e um máximo de perturbação, conhecido como cubo suicida de Shneidman (1987).

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, apresentou o suicídio como um retorno da agressividade dirigida a outrem contra a própria pessoa. De acordo com o autor, “nenhum neurótico nutre pensamentos suicidas que não tenha voltado contra si próprio a partir de impulsos assassinos contra outros”, mas nunca se conseguiu explicar que interação de forças pode levar tal propósito a ser executado (Freud, 1917, p.251).

No mesmo sentido, Karl Menninger (1938) considerou que três desejos coincidem no suicídio: o de matar (instinto de agressão ou destruição), o de ser morto (necessidade de punição por sentimentos de culpa ou submissão masoquista), e o de morrer, aprofundando a teoria psicanalítica do suicídio “como o homicídio de si”. 

Também Eduardo Sá (2001) refere que “ninguém se mata para morrer, mas – antes – como forma desesperante de comunicar uma dor” (p.128).

O Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (2013) apresenta o suicídio como “um fenómeno complexo e multifacetado fruto da interação de fatores de ordem filosófica, antropológica, psicológica, biológica e social” (PNPS, 2013, p.3).

“Suicídio refere-se ao ato deliberado e intencional levado a cabo pela pessoa para pôr termo à própria vida. O suicídio e as tentativas de suicídio são problemas de saúde pública que representam um grande desafio para a comunidade. É um fenómeno multideterminado para o qual contribuem fatores biológicos, psicossociais e culturais de cada indivíduo e não é por isto possível oferecer explicações simples para este comportamento.”

Prevenção do Suicídio – Manual para Jornalistas (2020, p.8)

Referências

Durkheim, E. (1897/1982). O suicídio. Lisboa: Editorial Presença.

Freud, S. (1917). Mourning and Melancholia. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, Volume XIV (1914-1916). London: The Hogarth Press, 243–258.

Menninger, K. (1938). Man against himself. New York: Harcourt, Brace and Company.

Moron, P. (1977). O suicídio. Lisboa: Publicações Europa-América

Organização Mundial de Saúde (2021). Suicide worldwide in 2019

Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (2013)

Prevenção do Suicídio – Manual para Jornalistas (2020)

Sá, E. (2001). Morrer, para quê? Psiquiatria Clínica, 22(1), 127-129.

Shneidman, E. S. (1977). Definition of Suicide. Jason Aronson Inc. Publishers

Shneidman, E. S. (1987). A psychological approach to suicide. In G. R. Vandenbos & B. K. Bryant (Eds.), Cataclysms, crises, and catastrophes: Psychology in action (147-183). Washington: American Psychological Association.